Transformando crise em resultado
Enquanto muitos especialistas econômicos alertam sobre a realidade socioeconômica vivenciada no Brasil e no mundo
Enquanto muitos especialistas econômicos alertam sobre a realidade socioeconômica vivenciada no Brasil e no mundo, o que também podemos comprovar na mídia, fortemente apresentado nos noticiários e programas diversos, podemos ver algumas manchetes que contrariam as visões apocalípticas anunciadas. Há quem reforce a ideia de que estamos em crise, que a mesma piora e que não há indícios de que a situação venha a melhorar, há economistas que defendem a possibilidade de uma reação possível em determinados segmentos e mercados e há ainda, alguns empresários que afirmam não estar em crise e, muito pelo contrário, prosperam e que, apesar de toda a incerteza do mercado, não estão vivenciando essa crise e seus negócios crescem vigorosamente. Que fenômeno é esse que faz com que alguns empresários, à revelia de todos os desafios sócio-econômico-político e financeiros presentes no cenário atual, mantenham seu crescimento, sua margem de lucro e prosperem mesmo em um ambiente de grandes adversidades?
Não podemos negar que caminhamos passos incertos e que a falta de perspectivas de melhora em curto prazo, tende a desestabilizar cada vez mais a economia e refletir nas vidas dos brasileiros. A negação dos desafios reais, certamente, não os eliminará do cotidiano e nem diminuirá seu efeito nas vidas de todos. Entretanto, a supervalorização de cada medida ou ação desafiadora apresentada no mercado, que venha a ter resultado não satisfatório ou até mesmo negativo, pode ajudar a gerar um efeito cumulatório de prostração coletiva, que também, em nada contribui para a melhora dos negócios, apenas contribui para o aumento da bolha de negativismo de uma sensação de impotência social, gerando ainda mais estagnação.
Para transitar nesse cenário é preciso ficar alerta e compreender que exatamente quando surgem os desafios e as barreiras se apresentam, é necessário manter o bom senso e avaliar a nossa posição de forma racional. É imprescindível que cada um entenda o que é real e o que é exacerbação de desafios comumente vivenciados no dia-a-dia. É preciso entender qual a real situação do seu negócio, do seu segmento, do seu mercado, da sua empresa. Sabemos que muitas são as empresas e empresários que estão passando por momentos de grande dificuldade para se manter no mercado, alguns até mesmo estão “fechando as portas”, para evitar danos e perdas maiores, entretanto, há empresas investindo bilhões em aquisições de outras empresas, outras fazendo parcerias ou se reestruturando, muitas estão utilizando seu lado inovador e estão reinventando sua forma de fazer negócios, a fim de ganhar mais fôlego e manter sua sustentabilidade.
Será que em algum momento da história, a existência do homem deixou de presenciar momentos de crise, sejam elas intensas ou pequenas situações de grande impacto que temos que administrar no cotidiano? De um lado sempre tivemos as guerras impulsionando à ação, inclusive promovendo o avanço tecnológico, as catástrofes naturais forçando a união e a reconstrução, de outro lado, se avaliarmos bem a vida profissional, veremos que há constantemente nas empresas pequenas crises entre áreas, projetos, acionistas, o que gera grandes problemas, chegando-se até mesmo dissolução das empresas. Outras questões como ética e segurança, também desafiam a sobrevivência financeira, moral e a vida das empresas. E como se não bastasse, nós mesmos, temos que vivenciar nossas pequenas mas profundas crises que desestruturam nossa vida profissional, como as crises de confiança, crises de entusiasmo, crises de empreendedorismo, crise de consciência ambiental e social e até mesmo, crise de “propósito”, quando perdemos a capacidade de enxergar qual é a nossa missão, o que queremos, onde queremos chegar e fundamentalmente, o que vamos construir e qual legado vamos deixar.
Toda crise, tenha ela o tamanho e dimensão que tiver, é como as ondas do mar, que nos alcançam vagarosamente quando ainda são pequenas e podem nos derrubar quando se tornam gigantes. É preciso aprender a pular as ondas, é preciso aprender a surfar nas ondas colossais. Algumas pessoas ficam atentas e se movimentam no ritmo da onda, outras não. Algumas aproveitam o movimento, se preparam, utilizam suas ferramentas (pés de pato, bodyboard ou prancha de surfe) e podem até mesmo se divertir e aprender com essa experiência. Outras pessoas, não se preparam, são desatentas, ficam distraídas e, se são surpreendidas, podem até mesmo ser arrastadas mar adentro, sem chance de se levantar. É o que acontece no mercado, é o que acontece no mundo.
Como você tem se preparado nesse momento de desafios intensos? Temos uma boa notícia para você, as ondas se movimentam, vêm à praia e voltam, mas temos uma constatação, esse movimento não para, não diminui, e tende a aumentar cada vez mais. A vida tende a se transformar, incansavelmente, e oferecer cada vez mais motivos para nos prepararmos, nos adaptarmos e nos mantermos em constante evolução.
Portanto, frente às crises ou adversidades, movimente-se. Transforme esses desafios em resultados, e para isso, é preciso muito mais do que uma postura otimista. Não seja apenas otimista, seja um estrategista, consciente, com análise racional, postura positiva e atitude emocionalmente equilibrada. Nada de desespero, nada de quimeras de Cervantes. Movimente-se estrategicamente, com interação constante e velocidade, inovando em ações e em comportamentos engajadores.
Ida Fernandes é professora da IBE-FGV, especialista em Gestão de Pessoas, Liderança e Coaching Executivo.